UM POEMA É UM COITO Um poema é um coito que nom tivo lugar, maré de lascívia que, ao nom dar com o oceano, quebrou muros de palavras e avançou como umha enchente sobre a chaira de papel... Um poema nace após uns nove meses, dumha saia que bambea, dumhas ligas, que alterárom os nervos e os deixárom vulneráveis. Um poema é umha pera, um sucedáneo, que descarrega por um tempo a exigência dos colhões. Um poema é um coito e, ao mesmo tempo, um coito é um poema. 1959
William Auld (1924-2006), poeta escocês em esperanto
(notas para lusófonas/os nom galegas/os: tivo: teve; chaira (do latim PLANARIA): planície; pera: punheta, segóvia, masturbaçom)
a suave noite dos gatos
roçou a janela
bebeu numha cunca invisível
leite frio...
No raio verde de neon
esticou o negro rabo
e ensopou o pezinho
numha banheira negra;
e quando a lua chea
desaguou no céu da noite
fitou com olhos d’ouro
naquel disco de prata...
As antenas (orelhas em ponta)
estendeu entom com força
para saudar sussurros
dumha orquestra em branco e preto...
Julia Pióro (1902-1988), poeta polaca em esperanto
(notas
para lusófonas/os nom galegas/os: cunca: chávena (PT, PALOP), xícara (BR)).
Filme português de animaçom: Estória do gato e a lua (1995), de Pedro Serrazina