quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Um poema é um coito




UM POEMA É UM COITO

Um poema é um coito
que nom tivo lugar,
maré de lascívia que,
ao nom dar com o oceano,
quebrou muros de palavras
e avançou como umha enchente
sobre a chaira de papel...

Um poema nace
após uns nove meses,
dumha saia que bambea,
dumhas ligas,
que alterárom os nervos
e os deixárom vulneráveis.
Um poema é umha pera,

um sucedáneo,
que descarrega por um tempo
a exigência dos colhões.

Um poema é um coito
e, ao mesmo tempo,
um coito é um poema.
                       
                                1959

William Auld (1924-2006), poeta escocês em esperanto

(notas para lusófonas/os nom galegas/os: tivo: teve; chaira (do latim PLANARIA): planície; pera: punheta, segóvia, masturbaçom)


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Noite colorida


NOITE COLORIDA

a suave noite dos gatos
roçou a janela
bebeu numha cunca invisível
leite frio...
No raio verde de neon
esticou o negro rabo
e ensopou o pezinho
numha banheira negra;
e quando a lua chea
desaguou no céu da noite

fitou com olhos d’ouro
naquel disco de prata...
As antenas (orelhas em ponta)
estendeu entom com força
para saudar sussurros
dumha orquestra em branco e preto...

Julia Pióro (1902-1988), poeta polaca em esperanto

(notas para lusófonas/os nom galegas/os: cunca: chávena (PT, PALOP), xícara (BR)).




Filme português de animaçom: Estória do gato e a lua (1995), de Pedro Serrazina 





sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Brinde


BRINDE

Bebe, filho, a modinho,
bebe, filho, devagar!

Mui aginha nom dá jeito,
pois assi nom vás gozar!

Tocai,
cantai
o bom da cerveja!

Nom pra ti,
só pró ar
o conselho seja!

 

Ŝtefo Urban (1913-1974), poeta checo em esperanto


(notas para lusófonas/os nom galegas/os: a modinho, a modo: devagar, lentamente. Aginha: depressa, rapidamente).




 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Ti és o mar


 TI ÉS O MAR

Ti és o mar por onde eu navego
levando estrelas tam só como guia;
no colo teu procuro o aconchego
enquanto sopra a forte nordesia...

E mália o frio, mália as fortes trombas,
a minha alma rejouba vogando:
eu vou singrar mais além nas tuas ondas
e afinal afogar no oceano...


William Auld (1924-2006), poeta escocês em esperanto

(notas para lusófonas/os nom galegas/os: ti: variante de tu. Nordesía: vento frio do norte. Mália: a pesar de. Rejoubar: gozar alegremente).




 

domingo, 30 de setembro de 2012

A vida



A VIDA


dos caducos para os jovens
reta e indiferente
deve a vida fluir para a frente
sem adeuses e sem tédios

o que hoje compreendeche
dominarám-no manhá
os outros
aínda coa casca

a cançom que onte
sussurravas na vitória
quer manhá voar
de beiços mais fermosos

e os momentos que forjache
podes observá-los
a explodirem como a lava
nos que abanam as cadeiras

assi, com o peito aflito,
tés em vám que pedir esmola
e tés que sofrer
que mudas a pel e vás à deriva

a vida (chegou um dia com chocalhos
afagando caralhos)
hoje saúda
com gorjetas, esquivando

e aginha galopa rumo aos jovens


Benoît Philippe (1959-), escritor alemám em esperanto

(nota para galegas/os: gorjeta: pequena gratificaçom em dinheiro que se dá a alguém polo seu serviço).
(notas para lusófonas/os nom galegas/os: compreendeche, forjache: compreendeste, forjaste. Onte: ontem. Tés, vás: tens, vais. Aginha: depressa, rapidamente).



domingo, 23 de setembro de 2012

Num tempo errado



NUM TEMPO ERRADO

Num tempo errado
em Nápoles
cuspido dum vagom
sem nada a perder
coas suas guedelhas
com pinta de pulgas
naquel pavimento
brilhante e liso como o aziveche
adormece
nos cornos da lua
sem rem de vergonha
como um cam vadio
além da galerna
do resplandor do ogro


Benoît Philippe (1959-), poeta alemám em esperanto

(notas para lusófonas/os nom galegas/os: aziveche: azeviche. Rem: nada. Galerna: temporal no mar).


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Bebedeira



BEBEDEIRA

as garrafas fam fileiras,
argalhantes, companheiras,
nas estantes dessa zona:
garrafinhas, garrafonas,
verdes, brancas,
grossas, fracas,
o olho chiscam sob as luzes
ao consumo me induzem,
                grolos tolos,
                sem controlo
a que beba o conteúdo
seja grande ou miúdo
o licor beber com jeito
             tecer com teito
              lezer com leito
            peper com peito
                           pauta
                           pouta

tou a ver que nessa esquina
umha humana feminina
ri com dentes de cavalo,
olha alguém para tentá-lo,
move o queixo,
lança um beijo,
com desleixo:
e eu nom deixo
de ver branco sobre as meias,
pernas pálidas, sem veias.
eu adoro-te, querida,
porque te amo sem medida,
quero, dama,
ir prà cama,
e aquecer-nos
e esquecer-nos
esquecer-nos das tristezas
ergueder-no dar distezas
Engadir-no dar bareza
                             borreza
                        eu nex-xito
                             nex-xito

bodes der-me dar-dixer-me
onde anda onde meter-me
na ca
         na cax-de
                        cax-de
                                   de
graxas gradas obi gado
                              graças
'scupa nomtou bebdo
'scupa
           'scupa
                      'aças
                               'aças

                                pausa
                               náusea


William Auld (1924-2006), poeta escocês em esperanto


(notas para lusófonas/os nom galegas/os: argalhante: que argalha, tramador, conspirador. Chiscar o olho: piscar o olho. Grolo: gole, trago. Tolo: louco. Lezer: lazer. Pouta: garra. Engadir: juntar, acrescentar. Graças: obrigado)


O poema de Auld cantado polo Coro e Orquestra da Ópera e Filarmonia da Podláquia, Polónia