nom se enche, pois da esquina as pingotas nom atinam, como a água nom escoa coa sede as rás croam:
Coá-coá coá-coá coá coá quam aquático é o quadro coá coá coá quanto chove aí no adro coá coá coá quatro equánimes batráquios em quarteto no seu pátio consequentes, água à sina pedem para a sua tina coá coá coá!!!!!
Coá-coá coá-coá coá coá neste esquálido aquário coá coá coá com compasso quaternário coá coá coá cantam quatro rás loquazes, contra a quarentena fazem antiquadas sonatinas: Deus da Água, enche a tina coá coá coá!!!!!
Isto prova que se chove e o telhado o balde cobre, só croando nada mudam as razinhas se nom pulam. Nom croedes como as relas, companheiros, companheiras!
Julio Baghy (1891-1967), poeta húngaro em esperanto
(notas
para lusófonas/os nom galegas/os:croar: coaxar. Pingota: pinga, gota)
O poema de Baghy cantado polo grupo neerlandês Kajto
hoje eu tirei e rachei o branco e rejo colar da Decência e a gravata da Moral colguei-na no muro do Olvido. Deixa! Ao cabo tam só som um home e queria no entanto ser besta umha hora e lamber sangue!
Nikolai Kurzens (1910-1959), escritor letom em esperanto
(nota para lusófonas/os nom galegas/os: rejo: rijo)
Florece a queiroa, florece a queiroa! O arroubo do aroma, abelhas na flor. Numha paz sublime o seu voo soa
com leves carícias do outonal calor.
No meio, deitada, abalo submersa no mar de ondas roxas do meu queiroal. O recendo todo o campo dispersa pra mim, estendida entre flores no val.
Mais volta a lembrança e umha dor arrasta que me rasga a gorja cum lamento ruim: se pudesse aquel que a distáncia afasta aqui nas queiroas jazer junto a mim!
Hilda Dresen (1896-1981), poeta estoniana em esperanto
(notas
para lusófonas/os nom galegas/os: queiroa: queiró, urze, planta da família das Ericáceas. Lene: doce, leve, suave. Alouminho: carícia)
Laika, cadela de olhares vivos, viaja entre as estrelas sem sabê-lo:
o que ela espreita ficará em segredo... Laika, ingénua e simples e cativa, na vida tam terrivelmente soa, a ti semelha o meu meninho quando está dormindo e vai polas estrelas sem sabê-lo: o que el enxerga ficará em segredo. Numha solidom atroz o meu pequerrechinho vive o íntimo drama do sono, a pairar no infinito, frágil criatura indefesa. E quando entom regresa, como tu, Laika, se afinal voltares, el guarda os segredos das estrelas nas suas pupilas negras, e guarda nas orelhas, conchinhas cor-de-rosa, a música eterna do espazo, mais nom pode dizê-lo, el sabe todo e nom sabe nada, como tu, Laika.
Clelia Conterno Guglielminetti (1915-1984), poeta italiana em esperanto
(notas
para lusófonas/os nom galegas/os: cativa: pequena. Meninho: menino, bebé. Pequerrecho: pequerrucho, criança)
por benditos caminhos de estrelas onde nom tenhem que corar as meixelas que tremer os lábios por sentir vergonha por esconder desejos Atravessa o bárrio blocos uniformes parques diminutos chega correndo a un vasto prado onde encontra a paz abraça o firmamento todo e lembra-se lembra-se da liberdade Mais logo se abre a porta o marido pede a sua cea os nenos a ver a tele absortos Acaba o dia
Éva Tófalvi (1947-). Poeta húngara em esperanto
(notas
para lusófonas/os nom galegas/os: meixela: bochecha. Logo: na Galiza tamém significa 'depois'. Cea: jantar, derradeira refeiçom do dia, que na Galiza som o almoço, o jantar e a cea)
As almas aflitas aonde irám? Aonde a juventude tripada? Os sonhos atraiçoados por onde vagam?
As lágrimas daquel anciám cansado? Chucha-o todo a terra crua? Pesam as paredes da minha casa. Alguns pardais medrosos chegam à janela, bebem umhas pingas e esvoaçam:
— É umha pessoa, irmáns, depressa, É umha pessoa, irmáns, avessa — Daquela tinha um cam fiel... Aonde vam as almas dos cadelos? Quem consola os laios dos cans sem lar? Passa a vida plúmbea e perde-se. Os pardais sobrevoam e fogem. Onte, porém, chegou umha abelha, bebeu pingotas do prato, acarinhou-me os lábios e zumbiu assi: — Conheço a terra plácida onde vam as almas dos cadelos. Nada se perde. A terra nom suga bágoas nem desejos. Bágoas, desejos, flores murchas, queixas da vida que se foi, todo se entorna num rio de doçura, onde flutua feliz cada sentimento reprimido, naquela terra oculta que conheço tam afastada dos olhos profanos... — A abelha sussurrou-me o segredo por umha pinguinha d'água, beijou-me nos lábios e prometeu: — Quando morreres fecharei os teus olhos coas minhas asas coa mesma ternura do meu beijo e levarei-te à terra oculta escondida aos olhos profanos. Ali o vento apenas tem a força do meu voo. Ali verás o cam que amas. Todas as lágrimas ali esquecidas som gotas no rio de doçura. — Umha abelha beijou-me nos lábios por umha pinguinha d'água num prato, beijou-me umha abelha e deixou-me umha promesa.
Déspina Patrinú (1930-), poeta grega em esperanto
(notas
para lusófonas/os nom galegas/os: tripada: pisada, esmagada. Laio: queixa, lamento. Pingota: pinga, gota. Bágoa: lágrima)
Vam voltando os esquecidos Durante as noites brancas quando hai lua chea
quando os rios alagam e sangram as feridas Vam voltando Rodeam-te como a um caixom num velório Nom tés medo a envelhecer? perguntam e pedem sítio na tua vida
QUANDO entrei nesta toupeira, se gosto tanto do sol.
Quem me atou as maos, se desejo mais que nada a liberdade.
Escuridade ao meu redor, nem un raio de luz a fende, nem forja estrelinhas co pó, pois o pó mesmo nom existe, todo é pesado, denso, escuridade abafante...
Nunca entrei nesta toupeira. Adoro tanto o sol.
E porém jazo algures debaixo da terra.
Sem sol, sem luz, apenas trevas.
Vesna Skaljer-Race, (1911-2000), poeta da ex-Iugoslávia en esperanto