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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Beijou-me umha abelha



BEIJOU-ME UMHA ABELHA

As almas aflitas aonde irám?
Aonde a juventude tripada?
Os sonhos atraiçoados por onde vagam?
As lágrimas daquel anciám cansado?
Chucha-o todo a terra crua?
Pesam as paredes da minha casa.
Alguns pardais medrosos chegam à janela,
bebem umhas pingas e esvoaçam:

É umha pessoa, irmáns, depressa,
É umha pessoa, irmáns, avessa

Daquela tinha um cam fiel...
Aonde vam as almas dos cadelos?
Quem consola os laios dos cans sem lar?
Passa a vida plúmbea e perde-se.
Os pardais sobrevoam e fogem.
Onte, porém, chegou umha abelha,
bebeu pingotas do prato,
acarinhou-me os lábios
e zumbiu assi:
Conheço a terra plácida
onde vam as almas dos cadelos.
Nada se perde.
A terra nom suga bágoas nem desejos.
Bágoas, desejos, flores murchas,
queixas da vida que se foi,
todo se entorna num rio de doçura,
onde flutua feliz cada sentimento reprimido,
naquela terra oculta
que conheço
tam afastada dos olhos profanos...

A abelha sussurrou-me o segredo
por umha pinguinha d'água,
beijou-me nos lábios
e prometeu:
Quando morreres
fecharei os teus olhos coas minhas asas
coa mesma ternura do meu beijo
e levarei-te à terra oculta
escondida aos olhos profanos.
Ali o vento
apenas tem a força do meu voo.
Ali verás o cam que amas.
Todas as lágrimas ali esquecidas
som gotas no rio de doçura.

Umha abelha beijou-me nos lábios
por umha pinguinha d'água num prato,
beijou-me umha abelha e deixou-me umha promesa.

Déspina Patrinú (1930-), poeta grega em esperanto

(notas para lusófonas/os nom galegas/os: tripada: pisada, esmagada. Laio: queixa, lamento. Pingota: pinga, gota. Bágoa: lágrima)